Apagão na Europa expõe fragilidade energética do continente

Espanha e Portugal ficaram sem energia por 18 horas

Na segunda-feira, 28 de abril de 2025, uma interrupção elétrica em larga escala deixou milhões de pessoas sem luz na Espanha e em Portugal, em um dos maiores apagões de energia já registrados na Europa. O fornecimento só foi completamente restabelecido no início da manhã de terça-feira, 29, totalizando cerca de 18 horas de apagão, segundo autoridades espanholas e portuguesas.

Hospitais, sistemas de transporte público, escolas e repartições públicas enfrentaram dificuldades. Bem como, em Madri, o metrô ficou paralisado por horas. Em Lisboa, hospitais operaram com geradores e as telecomunicações foram severamente impactadas.

População afetada e reações imediatas

O apagão afetou quase toda a Península Ibérica, deixando milhões de pessoas sem eletricidade. Segundo o The Guardian, o blecaute atingiu quase toda a península, com uma população conjunta de aproximadamente 60 milhões de pessoas. Em Portugal, o operador de rede elétrica REN informou que, na noite de segunda-feira, 28 de abril, restaurou-se a energia para cerca de 6,2 milhões de lares, de um total de 6,5 milhões. Indicando que a maioria da população foi afetada.

Do mesmo modo, na Espanha, o operador de rede REE relatou que, até a manhã de terça-feira, 29 de abril, 90% da energia havia sido restaurada. Assim, isto implica que uma parcela significativa da população espanhola enfrentou interrupções no fornecimento elétrico. ​

Diante da magnitude do evento, autoridades dos dois países convocaram coletivas emergenciais. O Primeiro-Ministro espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que é urgente “revisar a infraestrutura energética europeia frente à nova realidade geopolítica e climática”. Bem como, a Comissão Europeia reforçou a necessidade de investimentos em sistemas de resposta rápida e interconexão resiliente.

Causas reais e teorias desmentidas sobre o apagão na Europa

Rumores sobre um possível ataque cibernético começaram a circular ainda nas primeiras horas do apagão de energia na Europa, impulsionados por postagens em redes sociais e portais sensacionalistas. Como resposta à pressão pública, a Procuradoria Nacional da Espanha determinou judicialmente a elaboração de um relatório técnico. A fim de investigar a hipótese de um ataque digital à infraestrutura elétrica.

No entanto, até o momento, autoridades técnicas e especialistas da Agência de Cibersegurança da União Europeia afirmam que não há indícios de ação maliciosa externa. De acordo com a CBN Brasil, a hipótese de um ciberataque, embora ainda sob análise formal, foi praticamente descartada pelas investigações preliminares.

Segundo a empresa espanhola REE (Red Eléctrica de España), a origem do apagão está associada a uma sobrecarga na linha de transmissão entre França e Espanha, combinada com uma falha de sincronização em usinas solares portuguesas. O desequilíbrio resultante gerou um efeito dominó, com desligamento automático de subestações e sistemas interligados como medida de proteção (Fonte: NYT, 30/04).

Apesar da relação com fontes renováveis, especialistas apontam que a falha não está na tecnologia em si. Mas na falta de infraestrutura adequada e protocolos de estabilização. Como destacou a Agência Internacional de Energia (IEA) na Cúpula de Londres:

“À medida que o mundo adota mais energia limpa, é essencial investir em redes inteligentes, sistemas de backup e armazenamento energético para garantir a segurança e a confiabilidade dos sistemas elétricos.” (IEA)

Segurança energética em pauta na semana da Cúpula de Londres

Além disso, o episódio reacendeu debates sobre a vulnerabilidade das redes elétricas em tempos de transição energética. Dessa maneira, a integração de fontes renováveis — como solar e eólica — embora essencial para a descarbonização, traz novos desafios de estabilidade. Especialmente quando há picos de demanda ou falhas técnicas em cadeia.

Poucos dias antes do apagão, Londres sediou a conferência “Summit on the Future of Energy Security”, nos dias 24 e 25 de abril. O evento reuniu líderes políticos e empresariais para discutir soluções diante dos riscos crescentes à segurança energética global — de eventos climáticos extremos a instabilidades geopolíticas.

Fonte: IEA

O Primeiro-Ministro britânico afirmou que “a segurança energética não pode mais ser tratada como um tema técnico, mas sim como uma prioridade estratégica” (IEA). O Comissário Europeu de Energia, Dan Jørgensen, também reforçou o compromisso da União Europeia com a modernização de infraestruturas e ampliação das interconexões energéticas no continente.

A ironia entre o conteúdo da cúpula e o apagão que ocorreu dias depois evidencia o principal alerta dos especialistas: a transição energética precisa vir acompanhada de investimentos estruturais e mecanismos de resiliência — antes que o próximo blecaute chegue.

Fontes: The Guardian, The New York Times, BBC, CBN E IEA.