Documento da Coalizão para a Descarbonização dos Transportes é entregue à presidência da COP30 e ministros, destacando papel dos biocombustíveis, eletrificação e modais sustentáveis.
A meta de cortar até 70% das emissões de gases de efeito estufa do setor de transportes brasileiro até 2050 foi oficializada em um plano estratégico apresentado nesta semana à presidência da COP30 e aos Ministérios dos Transportes e de Portos e Aeroportos.
O documento é resultado da articulação entre mais de 50 organizações, incluindo empresas, universidades, ONGs e órgãos públicos. Eles integram a Coalizão para a Descarbonização dos Transportes, coordenada pelo Instituto de Energia e Meio Ambiente (IEMA) e o Centro Brasil no Clima (CBC) .
Um plano estruturado com metas claras para o setor de transportes
O Plano Nacional de Descarbonização do Transporte define quatro frentes prioritárias: eletrificação da mobilidade, substituição de combustíveis fósseis por renováveis (como biocombustíveis e SAF), expansão dos modais de menor emissão (ferrovias e hidrovias) e melhoria da eficiência operacional do sistema.
Segundo o estudo o setor de transportes emitiu 260 milhões de toneladas de CO₂ em 2023, correspondendo a 11% das emissões brutas nacionais. Dessa maneira, com a adoção das tecnologias já disponíveis, seria possível reduzir essas emissões para 137 milhões de toneladas até 2050. Isto representa uma queda de 47% mesmo considerando o crescimento da demanda no setor.
Para alcançar essa meta, a coalizão propõe um conjunto de 90 ações estratégicas. As quais exigiriam investimentos da ordem de R$ 600 bilhões ao longo das próximas décadas.
Biocombustíveis e SAF como pilares da transição
Primordialmente, a substituição de combustíveis fósseis por etanol, biodiesel e Combustíveis Sustentáveis de Aviação (SAF) é vista como essencial para setores como o transporte rodoviário pesado e o aéreo, onde a eletrificação ainda enfrenta barreiras técnicas.
Ademais, a proposta prevê uma ampliação do uso de etanol em veículos leves e pesados e o crescimento acelerado da produção nacional de SAF. Embora as emissões do transporte aéreo representem cerca de 4% do total do setor de transportes no Brasil, sua descarbonização é estratégica, especialmente para cumprir compromissos internacionais.
Atualmente, o Brasil consome mais de 30 bilhões de litros de biocombustíveis, o que representa 23% da matriz energética nacional. A projeção futura aponta para um cenário com 55 bilhões de litros consumidos, incluindo um aumento de 25 bilhões de litros na demanda por SAF, diesel verde e outros biocombustíveis em comparação a 2023. No cenário mais otimista, espera-se que o bioSAF atinja 22% de penetração no mercado aéreo até 2050. Consolidando o país como um protagonista global em combustíveis renováveis.
Eletrificação com foco urbano
Por outro lado, para o transporte de passageiros e a logística urbana, o plano propõe uma transição rápida para veículos elétricos, com foco em frotas públicas e coletivas.
A projeção é de que 40% da frota de veículos leves e 90% dos ônibus urbanos sejam elétricos até 2050, com a devida ampliação da infraestrutura de recarga e incentivos fiscais ao longo da cadeia .
Ampliação de ferrovias e hidrovias podem fortalecer a sustentabilidade nos transportes
Bem como, o incentivo a ferrovias e hidrovias também é destaque do plano. O objetivo é aumentar significativamente a participação desses modais na matriz de transporte de cargas — hoje muito concentrada no modal rodoviário.
O plano estima que a expansão da malha ferroviária poderá reduzir até 19 milhões de toneladas de CO₂ nas emissões do setor até 2050. Embora essa transição demande investimentos robustos, além de avanços regulatórios e estudos de viabilidade ambiental, os modais ferroviário e hidroviário são estratégicos para reduzir a dependência do transporte rodoviário, altamente emissor.
No longo prazo, a requalificação e diversificação da matriz logística nacional representa um dos pilares mais sólidos para a descarbonização estrutural do setor de transportes.
Potencial de investimento e colaboração público-privada
Segundo o estudo, o plano pode mobilizar R$ 600 bilhões em investimentos privados ao longo das próximas décadas. A execução, porém, depende de cooperação entre setor público e privado, alinhamento regulatório, políticas de incentivo e financiamento de longo prazo.
Portanto, a entrega do documento diretamente à presidência da COP30 marca uma estratégia de diálogo com a diplomacia climática brasileira. Tornando-o o Brasil mais preparado para os debates e negociações na próxima Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 e para se tornar pioneiro na transição energética.
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Fontes:
- Coalizão para a Descarbonização dos Transportes. Estudo Completo. PDF – pág. 25, 28, 32, 35
- Reset/Capital. Como o setor de transportes propõe reduzir 68% das emissões até 2050
- Valor Econômico. Setor de transportes pretende reduzir 70% das emissões até 2050
- InfoMoney. Coalizão entrega plano que pode atrair R$ 600 bi