O Brasil avança na transição energética com investimentos em energia limpa, biocombustíveis e veículos elétricos. Estudo da BloombergNEF mostra oportunidades de US$ 6 trilhões até 2050.
O mundo enfrenta um cenário turbulento. Entre tensões geopolíticas e eventos climáticos extremos, a busca por segurança energética e sustentabilidade se intensifica. Nesse contexto, o Brasil surge como protagonista. Segundo o Brazil Transition Factbook 2025, estudo da BloombergNEF encomendado pela Bloomberg Philanthropies, o país tem uma chance histórica de liderar a agenda global rumo ao zero líquido.
Mais do que uma responsabilidade, essa transição representa uma oportunidade econômica de US$ 6 trilhões até 2050. O estudo oferece dados e análises para ajudar governos, investidores e empresas a navegar por esse novo caminho energético. E com a realização da COP30 em Belém, o Brasil terá os olhos do mundo voltados para suas políticas e soluções climáticas.
“A transição energética é a chance do Brasil mostrar sua força renovável e seu papel estratégico no mundo”, destaca o relatório da BloombergNEF.
Energia Limpa: Um Trunfo Brasileiro no G-20
O Brasil tem um diferencial claro: a matriz elétrica mais limpa entre os países do G-20. O avanço das fontes solar e eólica nos últimos anos é notável. Mas o estudo alerta: a matriz energética como um todo ainda é altamente dependente de combustíveis fósseis, especialmente no transporte e na indústria.
Mesmo assim, o país já é uma exceção em termos de descarbonização do setor elétrico. Isso oferece uma base sólida para expandir outras frentes de atuação – como armazenamento de energia e biocombustíveis avançados.
Além disso, a ambição brasileira se reflete nas suas metas climáticas. O país quer reduzir suas emissões líquidas de gases de efeito estufa em até 67% até 2035, comparado aos níveis de 2005, e alcançar emissões líquidas zero até 2050.
“Essa meta da NDC brasileira é mais ambiciosa que o cenário Net Zero da BloombergNEF”, diz o estudo.
Transporte Sustentável: O Próximo Passo
Um dos maiores desafios do Brasil está no transporte. Hoje, o setor é responsável por 53% das emissões energéticas do país. Mas há sinais de mudança: em 2024, as vendas de veículos elétricos ultrapassaram 100 mil unidades.
Empresas chinesas planejam abrir fábricas no Brasil, o que pode baratear os modelos e ampliar a frota elétrica nacional. Além disso, há um movimento crescente em direção ao combustível sustentável de aviação (SAF), com metas que cobrem quase metade da demanda global.
O Brasil, com sua indústria consolidada de biocombustíveis, pode se tornar um player de peso nesse mercado. Porém, a competição é alta e o setor ainda precisa de incentivos para escalar produção e infraestrutura.
Indústria, Hidrogênio Verde e Aço Limpo
Outro destaque do estudo é o papel estratégico do Brasil em setores industriais verdes. O país é um dos principais fornecedores globais de minerais críticos para a transição energética, como lítio e níquel.
Além disso, suas vastas reservas de biomassa podem acelerar a produção de aço verde, um dos elementos-chave para descarbonizar a indústria pesada. Mas nem tudo são flores: o hidrogênio limpo ainda enfrenta entraves sérios, como custos elevados e falta de demanda estável.
“O hidrogênio tem potencial, mas ainda precisa de um ecossistema favorável para se tornar competitivo”, aponta a BloombergNEF.
Finanças Sustentáveis e Taxonomia Verde
No campo financeiro, o Brasil prepara uma taxonomia nacional de sustentabilidade para este ano. Essa classificação será essencial para orientar investimentos e evitar o chamado “greenwashing”.
Além disso, o país está no centro das discussões sobre o mercado global de carbono. Com a COP30 no horizonte e o desenvolvimento de seu próprio mercado de créditos, o Brasil pode criar sinergias entre sua biodiversidade e oportunidades econômicas.
A agricultura regenerativa, por exemplo, já faz do Brasil o segundo maior mercado corporativo do mundo nesse setor. E com o maior potencial global para soluções baseadas na natureza, o país pode liderar esse movimento de forma estruturada e escalável.
Cenários Futuros: Net Zero vs Transição Econômica
A BloombergNEF apresenta dois cenários para a transição brasileira:
Cenário Net Zero (NZS)
- Baseado apenas nas políticas e tecnologias atuais.
- Alinha-se a um aquecimento global de 2,6°C até 2100.
- Foco na transição dos setores de energia e transporte.
- Emissões de energia precisam cair 70% até 2040.
Cenário de Transição Econômica (ETS)
- Visa emissões líquidas zero até 2050.
- Compatível com aquecimento de 1,75°C até 2100.
- Engloba todos os setores: energia, transporte, indústria e edificações.
- Requer mudanças estruturais e políticas mais agressivas.
Ambos os cenários mostram caminhos possíveis, mas o ETS exige esforços intensivos e coordenados em toda a economia.
Desafios e Oportunidades até 2050
Para cumprir suas metas climáticas, o Brasil precisa acelerar a redução de emissões em diversos setores – principalmente agricultura, uso da terra e florestas, que respondem por grande parte dos gases de efeito estufa.
Investimentos em tecnologia, regulação e infraestrutura serão cruciais. Mas o país já parte de uma posição estratégica, com abundância de recursos naturais e know-how em energias renováveis.
A transição energética no Brasil não é apenas viável – é desejável e lucrativa. Com ações concretas e políticas bem direcionadas, o país pode ser exemplo global de como crescer e descarbonizar ao mesmo tempo.
“O Brasil está em uma posição única para liderar. A COP30 será um divisor de águas”, conclui a BloombergNEF.